Créditos

Direcção,Organização,Redacção: Álvaro Lobato de Faria

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Homenagem a Figueiredo Sobral

Homenagem a
Mestre Figueiredo Sobral
Na verdade, Mestre Figueiredo Sobral é um buscador incessante de materiais e de formas a fim de dar sentido ao seu universo estético como suporte do discurso moderno.Quer utilizando a sua técnica dos relevos, cultivada desde os anos 60, em massa esculpidas num compromisso entre a pintura e a escultura de inspiração surrealizante ou de um realismo fantástico, ou quer expressando-se nas linhas simples de cores suaves das suas oníricas aguarelas ou materializando o pastel na criação esfíngica da boneca, no seu eterno feminino, ou nas visões cósmicas, Mestre Figueiredo Sobral configura a sua obra de grande qualidade no rigor e procura do surpreendente e do imprevisível.O mesmo labor e criatividade se projectam na escultura que merece um lugar à parte na sua obra e na história da escultura portuguesa.Com larga actividade em Portugal e no Brasil e noutros trabalhos monumentais, em lugares públicos espalhados pelo mundo, aplaudido pela melhor crítica, é tempo que Mestre Figueiredo Sobral ganhe o lugar universal que lhe compete.O Movimento Arte Contemporânea (MAC) é o espaço cultural que neste momento, muito se orgulha em o ter presente, com a sua excelente exposição individual "A Pintura e a Escrita”.
Álvaro Lobato de Faria
Director coordenador do MAC
___________________A Pintura e a Escrita
«A pintura e a escrita» é o título escolhido para esta exposição de pintura de Figueiredo Sobral, no MAC - Movimento Arte Contemporânea, cumprindo um seu velho sonho de aliar a poesia e os seus escritores de cabeceira à sua arte pictórica e escultórica.Deste modo, nestes 37 quadros povoam ecos de Eça de Queirós , em figuras representativas de uma sociedade de final do século XIX, onde a paixão, o vício e a ociosidade se entrelaçam em obras como A Relíquia, O Crime do Padre Amaro e Os Maias , cujo peso é bem sentido por aqueles que se intitularam a si próprios «Os Vencidos da Vida».Mas ainda dessa época , o pintor é fascinado por Camilo , na ironia da Queda dum Anjo e, por essa personagem de Calisto Elói, o político provinciano, que vai deixando cair as suas asas brancas à medida da sua ascensão, tal como diria Almeida Garrett no belo poema , com o mesmo nome, que é aqui pintado a espátula e a escárneo.É igualmente tocado pelo lado romântico de Camilo, em Amor de Perdição, nesse trio trágico-amoroso de Simão-Teresa-Mariana ou pela poesia de Flores sem Fruto de Garrett ou dos Sonetos de Bocage.Mas é Antero de Quental , o seu companheiro das noites insones, atormentado entre a fé e a descrença num Deus que sonhou e que é corporizado em quadros como «Ignoto Deo», «Na Mão de Deus», «O Crucificado» e «Mater Dolorosa» ou nesse poema contundente e desesperado de Alberto Lacerda, «Deus é uma blasfémia», que o pintor intitula «Carregando a terrível pedra de Sísifo ….Ehh, humanidade!!».No sentido crítico, mesmo no âmbito do sagrado, estão as suas preocupações sociais que são desmitificadas através da ironia, plasmada em tinta e pincel e ilustrada com poemas de Alexandre O’Neill ou de Manuel Bandeira. Num libelo contra a guerra erguem-se as vozes do poeta medieval João Zorro, ou de Fiama Hasse Pais Brandão.O seu próprio lirismo de pintor-poeta é assumido em poemas como «A morte de Manolete» e «Histórias com gritos de sevilhanas», encarnando a História Ibérica e ecos de Guernica. Portugal e os seus mitos, D.Sebastião e Marquês de Pombal, ressurgem nas suas telas e na voz de Camões ou na sageza histórica de Latino Coelho. ´A dimensão filosófica de Umberto Eco ou de João Rui de Sousa é captada na subtileza do relevo e da subversão da forma e da cor.Erguem-se, num cântico de amor, D. Quixote e Dulcineia, celebrando o sonho e a aventura dos eternos amantes. A beleza da mulher e a sua nudez visualizam-se na beleza cristalina da poesia de Camilo Pessanha ou de Adalberto Alves. Natália Correia e Florbela Espanca sugerem o mistério do amor, corporizado pelo pintor na sua forma surrealizante e barroca de se exprimir.E, finalmente, numa homenagem à mulher palestina e ao seu povo, Figueiredo Sobral dá vida ao poema de Mahmoud Darwish, (poeta palestino): «Juro!/ Que hei-de fazer um lenço de pestanas/ onde gravarei poemas aos teus olhos»É esta a mostra que o Mestre nos tem para oferecer, numa fase difícil da sua vida, em que cada vez mais interioriza a sua visão do mundo, isolando-se para se encontrar a sós com a sua arte, num diálogo que só ele entende, como dádiva miraculosa e perene que os deuses lhe ofertaram.
Elsa Rodrigues dos Santos
Lisboa, 9 de Março de 2005

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Meu caro ÁLVARO Lobato Faria,

…tudo farei – apesar das limitações estranguladoras do meu “tempo disponível” - para estar presente, pelo menos, nesse evento (culturalmente tão importante!) que será a homenagem ao José Maria FIGUEIREDO SOBRAL, a quem – para além da sua representatividade exemplar na (ir)realidade do universo riquíssimo das Artes Plásticas Portuguesas - …me liga uma fraterna amizade, consagrada ao longo de 49 anos …e ½ (entre a convivialidade permanente e a distância física, porém de imperecível comunhão mundivivencial) !!!

Peço-lhe que tente passar esta mensagem à Elsa (cujo contacto e-mail da Sociedade de Língua Portuguesa me parece ter “desaparecido”) …

…e receba o meu afectuoso reconhecimento, acrescido do louvor que o seu mérito, particularmente, me merece, pela persistência, decidida e valiosa, com que, infatigavelmente, tem lutado, pela reabilitação das “formas da fala” onde a memória cultural da nossa Portugalidade se afirmam …em nome do tempo, do espaço e, do Amor.

Aceite o abraço amigo do

José-Luis Ferreira

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